Quem pôde despender de mais de R$ 150,00 reais para assistir o show da banda escocesa Franz Ferdinand no último dia 17 de setembro, durante o Moto Mix Art Music 2006, com certeza, se possuísse outros cento e cinquenta reais no bolso, sairia e pagaria de novo a entrada.
Com uma apresentação que beirou a nostalgia e dislumbrou o público, o Franz mais uma vez provou que é uma das melhores bandas de rock da atualidade.
Tocando seus sucessos como "Walk Away", "Take me Out","Jacqueline", "This Boy" entre outras, os fãs ainda tiveram o privilégio de escutar ,em primeira mão, duas novas canções que serão incorporadas no novo álbum ,ainda sem título definido.
Esse tipo de apresentação é algo que faz, nós que somos amantes do bom e velho rock, nos sentirmos esperançosos com o futuro da música, pois a decadência na formação dos músicos e a disseminação de estilos dessonoros e com pouco técnica põem o rock em um quadro que beira à UTI.
Saudosismos a parte, se formos vasculhar a música dos anos 50,60 e 70 encontraremos inúmeros argumentos para esboçar que nessas épocas a qualidade sonora era muito superior à desempenhada hoje em dia, não só nos temas abordados nas suas letras, como liberdade, paz e amor, mas na composição das melodias; na valorização do talento acima de tudo. Até nos esquisitos anos 80 podemos encontrar inspiração como os ingleses do The Police e The Cure, estilos antagônicos mas com personalidade ímpar.
Não que eu seja totalmente contra o hard core ou o emo core(estilos predominantes atualmente), muito pelo contrário! Ouço e penero o que há de bom, mas vejo um surgimento desenfreado de músicos sem técnica, sem talento e com pouca inspiração em fazer arranjos de qualidade ou músicas com profundidade.
Criticar a música contemporânea foi sempre uma máxima. Até o Led Zeppelin e os Beatles foram criticados nas suas respectivas épocas, porém seu legado está presente até hoje. O mesmo não consigo vislumbrar para bandas como My Chemical Romance ou Good Charlotte, que estão no top ten das paradas, mas que não fariam falta para o rock.
O fato não é o som ter ficado mais simples. Ramones tocava de maneira simples e era sensasional. A música hoje em dia esta ficando empacotada. Igual. É difícil distinguir CPM22 de Detonautas. Culpa do pop! Culpa da mídia!
O que anima o roqueiro tradicional, aquele que curte um belo solo de guitarra, uma bateria técnica e não tão surrada, gosta de um som limpo e não um monte de chiado, são bandas que tentam resgatar no passado, influência para a sua música. Daí, podemos ver a luz no fim do túnel.
Bandas como Strokes, Jet, Franz Ferdinand, White Stripes, Radiohead e Cold Play, tem suas raízes regadas pelo melhor estilo do rock através da experimentação, do aperfeiçoamento, da busca pelo algo a mais; o fora do convencional.
O Strokes, por exemplo, tem visíveis influências associadas com o Velvet Undergroud, Blondie, The Clash e até The Doors. O Cold Play, por outro lado, traz em seu som marcas também verificadas nas composições do Pink Floyd, Flaming Lips e Echo and the Bunnymen, remetendo sempre a um paralelo comparativo entre seu som e o rock vanguardista de 60, 70 e 80. Só esse tipo de influência já permite ao artista ter base para ir além.
Cito também os já consagrados, U2, Oasis e REM, como semeadores de qualidade dentro da balburdia em que a música se encontra hoje. Grupos cinquentões como Deep Purple, Uriah Heep, Yes, Kiss, Pink Floid, Cream, Rolling Stones, Scorpions, The Who e outros, que ainda tentam fazer seu som, não com a mesma intensidade e inspiração do começo de suas carreiras, mas com o peso de quem já escreveu seu nome na história do rock, o que também é importante para a sobrevivência do estilo.
O rock está longe de morrer mas é preciso se atentar para que a influência pop, a mídia e a gravadoras não legitimem a incompetência e a acefalia dos músicos contemporâneos, dando ao público melodias cada vez mais iguais e letras sem sentido algum.
Reitero novamente meu apreço pela apresentação contagiante do Franz Ferdinand em São Paulo e espero que cada vez mais possamos nos orgulhar em ver a qualidade e o talento superar o muro erguido pela mediocridade.